quinta-feira, 29 de maio de 2014

FORMAÇÃO DOS PADRINHOS



INTRODUÇÃO
Ao longo da história da Igreja, os padrinhos e madrinhas apareceram espontaneamente, ainda antes da sua função estar devidamente delimitada. Todos os cristãos da comunidade sentiam-se responsáveis, em virtude da maternidade da Igreja. Na verdade, os padrinhos surgiram como suplentes dos pais biológicos, quando as crianças ficavam órfãs ou os pais não as educavam cristãmente. Mais tarde, o apadrinhamento tornou-se norma geral. Então, quem são os padrinhos? Qual é a sua missão? Que importância têm os padrinhos? Quais as exigências e responsabilidades dos padrinhos?

PADRINHOS, CONCEITO E NOÇÃO
Padrinhos, do latim, patrinus: paizinho. Indica uma função semelhante à ou substitutiva da do pai; coisa análoga vale para o termo madrinha. Liturgicamente, fala-se de padrinhos apenas em relação aos sacramentos do Baptismo e do Crisma (confirmação). Os popularmente conhecidos como padrinhos de casamento são, canónica e liturgicamente, simples testemunhas, sem obrigações específicas, posteriores à celebração do Matrimónio. “Conforme uso muito antigo na Igreja, o adulto não é admitido ao Baptismo sem um padrinho, para que o ajude, ao menos na última preparação ao sacramento, e para que, após o Baptismo, zele por sua perseverança na fé e na vida cristã. Também no Baptismo de crianças haja um padrinho que represente, seja a própria família dos baptizados, espiritualmente ampliada, seja a Santa Mãe Igreja e, quando necessário, ajude os pais, para que a criança venha a professar a fé, manifestando-se na sua vida” (S. C. para o culto divino)[1]. No que diz respeito ao Crisma, cada confirmando é, habitualmente, assistido por um padrinho, que o conduzirá para receber o sacramento e o apresentará ao ministro da confirmação para a sagrada unção, assim como o ajudará a cumprir fielmente, segundo o Espírito Santo que recebeu, as promessas feitas no Baptismo.    

EXIGÊNCIAS PARA SER PADRINHO
Para alguém exercer o serviço de padrinho ou madrinha, observe-se os seguintes requisitos: 1. Seja designado pelo próprio baptizando ou pelos pais ou por quem faz as vezes destes ou, na falta deles, pelo pároco ou ministro, e possua aptidão e intenção de desempenhar este serviço; 2. Tenha completado (o mínimo) dezasseis anos de idade, a não ser que outra idade tenha sido determinada pelo Bispo diocesano, ou ao pároco, ou ao ministro por justa causa pareça dever admitir-se excepção; 3. Seja católico, confirmado e já tenha recebido a santíssima Eucaristia, e leve uma vida consentânea com fé e o serviço que vai desempenhar; 4. Não esteja obrigado por nenhuma pena canónica legitimamente aplicada ou declarada; 5. Não seja o pai ou a mãe do baptizando. (cf. cân 874).
Nota: Um baptizado pertencente a uma comunidade eclesial não católica só se admita juntamente com um padrinho católico e apenas como testemunha do Baptismo.
Ora, o padrinho da Confirmação também deve preencher as condições exigidas ao padrinho do Baptismo; e é conveniente que o padrinho da Confirmação seja o mesmo do baptismo, o que é mais lógico para “acompanhar” o afilhado (cân. 893, § 1 e § 2).

O APADRINHAMENTO
O Apadrinhamento é uma função pessoal, exercida pela comunidade cristã e pelos fiéis para realizarem uma tríplice tarefa: testemunhar junto do candidato em todo o seu processo de conversão; garantir o seu eventual ingresso na comunidade e ajudá-lo no seu crescimento cristão. A dimensão comunitária do apadrinhamento não suprime a dimensão pessoal. O Padrinho e a madrinha ajudam o afilhado/a a alcançar a maturidade cristã[2]. Eles devem velar para que o/a baptizado/a ou o/a confirmado/a se comporte como verdadeira testemunha de Cristo e cumpra fielmente as obrigações inerentes aos sacramentos recebidos. 

PADRINHOS COMPROMETIDOS COM A EDUCAÇÃO
Educação significa formar personalidades integradas em seus diversos componentes: físico, mental, psicológico, espiritual, emocional, social. Tal objectivo enfrenta hoje numerosos desafios, que colocam em risco a possibilidade de se chegar à formação de pessoas humanas integrais. Os desafios referidos incidem, basicamente, sobre a matriz em que se desenvolve o processo de educação: a família. Cabe, pois, a esta examinar aqueles desafios, conhecê-los e identificar as formas e os procedimentos para superá-los.
Assim como a presença dos pais e das famílias nas várias etapas da evolução dos filhos é importante, o mesmo se pode considerar aos padrinhos. Eles deverão ser menos mestres do que guia, dando o exemplo de suas vidas, provocando conversas sugestivas, propondo leituras inspiradoras para os seus afilhados. O mais importante é que o afilhado possa chegar à convicção de que ele próprio é o principal agente de sua educação e da estruturação de sua personalidade, simplesmente porque é o principal responsável por sua própria felicidade. Alias, “a mais profunda pedagogia da existência humana não se encontra na esfera do dizer, mas na do viver”[3]. Ora, o cristão assume grave responsabilidade quando, com sua vida, é ocasião de escândalo e até de ateísmo, ao deixar de revelar e, ao invés disto, ocultar a verdadeira face de Deus e da religião (GS 19).
Não faz mal que a felicidade não seja a rima mais fácil para a felicidade: ainda que custe, cabe aos padrinhos darem tudo de si para que o afilhado construa a sua própria felicidade; porque apenas assim poderão eles também serem felizes e repousarem na tranquilidade.
A NECESSIDADE DE ACOMPANHAMENTO
Para além dos aspectos fundamentais acima referidos, cada padrinho seja protagonista de valores espirituais e morais para a promoção da dignidade humana e do bem-estar.
O mundo hodierno está tão globalizado e que de certa forma a religião e a moral tendem a estar em segundo plano. A condição do homem no mundo actual se resume na esperança e temores e ainda procura compreender o mundo, as suas esperanças e aspirações e o seu carácter dramático; a evolução e o domínio da técnica e da ciência trazem mudanças na ordem social: mudanças psicológicas, morais e religiosas. E por conseguinte, esta evolução pode provocar desequilíbrios pessoais, familiares e sociais, porque o saber teórico e prático não traz satisfação ao homem. Tudo isso traz consequências negativas para o homem que ao mesmo tempo se torna causa e vítima. Porém, o ser humano deve dominar as coisas criadas e, é ele que pode estabelecer ordem política, social e económica que devem servir para a dignidade humana. Portanto, Jesus Cristo deve ser e é de facto a resposta e a solução da problemática humana (GS 4-10). Nesta óptica, um padrinho não pode desperdiçar a oportunidade de ser um bom guia para que o seu afilhado não se envolva em práticas anti-morais e contrárias ao dom da vida (prostituição, homossexualismo, suicídio, aborto, etc.) e, fique longe do uso de analgésicos e consumo de drogas (Álcool, Tabaco, Haxixe/Marijuana, Cafeína, Mirá, Inaláveis, etc.) para construir uma vida digna.
É mesmo no respeito pela vida e na dignidade da pessoa humana, onde o homem, como ser (não só carnal, mas também) espiritual por natureza, tem a potencialidade para viver numa relação com o Criador, uma vez que foi criado à sua imagem e semelhança (Gn 1,27). Pelo dom do Espírito Santo, o homem chega a contemplar e a saborear na fé o mistério do plano divino (GS 15) e na grandeza da liberdade, ele pode se converter ao bem. O padrinho não pode e nem deve se cansar de insistir seu afilhado, para que leve uma vida espiritualmente activa não deixando que esta espiritualidade seja vivida num vácuo. Também ajude-o a fugir de toda imoralidade.

SACRAMENTOS E VIDA CRISTÃ
Os sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o Baptismo, a confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos enfermos, a Ordem e o Matrimónio. Os sete sacramentos tocam todas as etapas e momentos importantes da vida do cristão: outorgam nascimento e crescimento, cura e missão à vida de fé dos cristãos. Há aqui uma certa semelhança entre as etapas da vida natural e da vida espiritual (CIC 1210).
Sendo sinais visíveis de uma graça invisível, os sacramentos celebram o mistério da Morte e Ressurreição do Senhor, unem o povo de Deus e exigem certas respostas daqueles que celebram: a fé em Jesus Cristo, a conversão, o compromisso. Só assim é que a graça de Deus pode ser eficaz. Não nos esqueçamos irmãos, de que Cristo Jesus fez sempre aquilo que era do agrado do Pai. Viveu sempre em perfeita comunhão com Ele. De igual modo, os seus discípulos são convidados a viver sob o olhar do Pai, “que vê no segredo” (Mt 6, 6), para se tornarem “perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 47). Reconhecendo pela fé a sua nova dignidade, os cristãos são chamados a levar, doravante, uma vida digna do Evangelho de Cristo (CIC 1692). E pelos sacramentos e pela oração, recebem a graça de Cristo e os dons do seu Espírito, que dela os tornam capazes. Assim diz S. Leão Magno, apelando todo cristão: “Reconhece, ó cristão, a tua dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembre-te de que cabeça e de que corpo és membro. Não te esqueças de que foste libertado do poder das trevas e transferido para a luz e para o Reino de Deus” (CIC 1691). De facto, Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Ele (Jo 14, 6). 

CONCLUSÃO
Os padrinhos desempenham um papel importante na inserção dos seus afilhados na comunidade cristã, na Palavra de Deus e na vida de oração. Que dentro da comunidade eclesial, os afilhados saibam viver numa relação que os leve a uma vida nova de maneira cristã, formando, assim, um só Corpo no qual Cristo é a Cabeça. Importa referir que, para um bom desempenho deste serviço e o bom acompanhamento dos afilhados, se tome em consideração um bom relacionamento, amor, amizade e proximidade, estando assim distantes do exemplo de vida que levam “gato e rato”. Dizia a escritora Dirce Bastos Pereira da Silva: “ Se os jovens, em nossos dias, são revoltados, é porque tiveram uma infância mal encaminhada – negligenciada ou superprotegida. Se os líderes decepcionam e os representantes do povo malbaratam os bens públicos, é porque, quando crianças, não aprenderam a respeitar os companheiros das brincadeiras. Se os casamentos se desmancham ou se arrastam em triste tolerância é porque os cônjuges, desde pequenos, não confiavam em si mesmos, não sabiam rir nem repartir, e não adquiriram, em tempo oportuno, conceitos correctos sobre o sexo. Se os homens se defrontam em guerras infinitas e sem razão, é porque nos seus lares conheceram mais o ódio que o AMOR. Se os pais e educadores abandonarem a repressão e educarem com AMOR, salvarão não só a criança, mas também o ameaçado Planeta em que vivemos”[4]. Portanto padrinhos e madrinhas, saibam exercer as funções que vos foram confiadas por Deus. Em Deus nada é impossível.  


  
BIBLIOGRAFIA
SCHLESINGER, H. & PORTO, H., Dicionário Enciclopédico das Religiões, K-Z, Vozes, Petrópoles, 1995.
AA.VV., Dicionário de pastoral 4, Perpétuo Socorro, Porto, 1990.
CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Constituição pastoral, Gaudium et  Spes, Roma, 1965.
CÓDIGO DE DIREITO CANÓNICO anotado, Diário do Minho, Braga, 1997.
PEREIRA, D. B. SILVA da, Pais e filhos: Educação Responsável, Paulinas, S. Paulo, 1986.
GONÇÁLVES, L. T. & GONÇÁLVES, L. E., Educação: a família desafiada, Paulus, S. Paulo, 1994.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, Gráfica de Coimbra, Lisboa, 1999.  


[1] HUGO SCHLESINGER – HUMBERTO PORTO, in Dicionário enciclopédico das religiões, K-Z, (Sub art. Padrinhos), Vozes, Petrópoles, 1995, pag. 1963.
[2] C. FLORISTÁN, in Dicionário de pastoral 4, (sub art. Padrinho), Perpétuo socorro, Porto, 1990, pag. 392.
[3] TIDA E ERNESTO LIMA GONÇÁLVES, Educação: a família desafiada, Paulinas, S. Paulo, 1994, pag. 255
[4] Texto estampado no verso da capa do livro com o seguinte título: Pais e filhos: Educação Responsável, Paulinas, S. Paulo, 1986.

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