INTRODUÇÃO
Ao
longo da história da Igreja, os padrinhos e madrinhas apareceram
espontaneamente, ainda antes da sua função estar devidamente delimitada. Todos
os cristãos da comunidade sentiam-se responsáveis, em virtude da maternidade da
Igreja. Na verdade, os padrinhos surgiram como suplentes dos pais biológicos,
quando as crianças ficavam órfãs ou os pais não as educavam cristãmente. Mais
tarde, o apadrinhamento tornou-se norma geral. Então, quem são os padrinhos? Qual
é a sua missão? Que importância têm os padrinhos? Quais as exigências e responsabilidades
dos padrinhos?
PADRINHOS, CONCEITO E NOÇÃO
Padrinhos,
do latim, patrinus: paizinho. Indica
uma função semelhante à ou substitutiva da do pai; coisa análoga vale para o
termo madrinha. Liturgicamente, fala-se de padrinhos apenas em relação aos
sacramentos do Baptismo e do Crisma (confirmação). Os popularmente conhecidos
como padrinhos de casamento são, canónica e liturgicamente, simples
testemunhas, sem obrigações específicas, posteriores à celebração do Matrimónio.
“Conforme uso muito antigo na Igreja, o adulto não é admitido ao Baptismo sem
um padrinho, para que o ajude, ao menos na última preparação ao sacramento, e
para que, após o Baptismo, zele por sua perseverança na fé e na vida cristã.
Também no Baptismo de crianças haja um padrinho que represente, seja a própria
família dos baptizados, espiritualmente ampliada, seja a Santa Mãe Igreja e,
quando necessário, ajude os pais, para que a criança venha a professar a fé,
manifestando-se na sua vida” (S. C. para o culto divino)[1]. No
que diz respeito ao Crisma, cada confirmando é, habitualmente, assistido por um
padrinho, que o conduzirá para receber o sacramento e o apresentará ao ministro
da confirmação para a sagrada unção, assim como o ajudará a cumprir fielmente,
segundo o Espírito Santo que recebeu, as promessas feitas no Baptismo.
EXIGÊNCIAS PARA SER PADRINHO
Para
alguém exercer o serviço de padrinho ou madrinha, observe-se os seguintes
requisitos: 1. Seja designado pelo
próprio baptizando ou pelos pais ou por quem faz as vezes destes ou, na falta
deles, pelo pároco ou ministro, e possua aptidão e intenção de desempenhar este
serviço; 2. Tenha completado (o
mínimo) dezasseis anos de idade, a não ser que outra idade tenha sido
determinada pelo Bispo diocesano, ou ao pároco, ou ao ministro por justa causa
pareça dever admitir-se excepção; 3.
Seja católico, confirmado e já tenha recebido a santíssima Eucaristia, e leve
uma vida consentânea com fé e o serviço que vai desempenhar; 4. Não esteja obrigado por nenhuma pena
canónica legitimamente aplicada ou declarada; 5. Não seja o pai ou a mãe do baptizando. (cf. cân 874).
Nota:
Um baptizado pertencente a uma comunidade eclesial não católica só se admita
juntamente com um padrinho católico e apenas como testemunha do Baptismo.
Ora,
o padrinho da Confirmação também deve preencher as condições exigidas ao
padrinho do Baptismo; e é conveniente que o padrinho da Confirmação seja o
mesmo do baptismo, o que é mais lógico para “acompanhar” o afilhado (cân. 893,
§ 1 e § 2).
O
APADRINHAMENTO
O
Apadrinhamento é uma função pessoal, exercida pela comunidade cristã e pelos
fiéis para realizarem uma tríplice tarefa: testemunhar junto do candidato em
todo o seu processo de conversão; garantir o seu eventual ingresso na
comunidade e ajudá-lo no seu crescimento cristão. A dimensão comunitária do
apadrinhamento não suprime a dimensão pessoal. O Padrinho e a madrinha ajudam o
afilhado/a a alcançar a maturidade cristã[2]. Eles
devem velar para que o/a baptizado/a ou o/a confirmado/a se comporte como
verdadeira testemunha de Cristo e cumpra fielmente as obrigações inerentes aos
sacramentos recebidos.
PADRINHOS
COMPROMETIDOS COM A EDUCAÇÃO
Educação
significa formar personalidades integradas em seus diversos componentes:
físico, mental, psicológico, espiritual, emocional, social. Tal objectivo
enfrenta hoje numerosos desafios, que colocam em risco a possibilidade de se
chegar à formação de pessoas humanas integrais. Os desafios referidos incidem,
basicamente, sobre a matriz em que se desenvolve o processo de educação: a
família. Cabe, pois, a esta examinar aqueles desafios, conhecê-los e
identificar as formas e os procedimentos para superá-los.
Assim
como a presença dos pais e das famílias nas várias etapas da evolução dos
filhos é importante, o mesmo se pode considerar aos padrinhos. Eles deverão ser
menos mestres do que guia, dando o exemplo de suas vidas, provocando conversas
sugestivas, propondo leituras inspiradoras para os seus afilhados. O mais
importante é que o afilhado possa chegar à convicção de que ele próprio é o
principal agente de sua educação e da estruturação de sua personalidade,
simplesmente porque é o principal responsável por sua própria felicidade.
Alias, “a mais profunda pedagogia da existência humana não se encontra na
esfera do dizer, mas na do viver”[3].
Ora, o cristão assume grave responsabilidade quando, com sua vida, é ocasião de
escândalo e até de ateísmo, ao deixar de revelar e, ao invés disto, ocultar a verdadeira
face de Deus e da religião (GS 19).
Não
faz mal que a felicidade não seja a rima mais fácil para a felicidade: ainda
que custe, cabe aos padrinhos darem tudo de si para que o afilhado construa a
sua própria felicidade; porque apenas assim poderão eles também serem felizes e
repousarem na tranquilidade.
A NECESSIDADE DE ACOMPANHAMENTO
Para
além dos aspectos fundamentais acima referidos, cada padrinho seja protagonista
de valores espirituais e morais para a promoção da dignidade humana e do bem-estar.
O
mundo hodierno está tão globalizado e que de certa forma a religião e a moral
tendem a estar em segundo plano. A condição do homem no mundo
actual se resume na esperança e
temores e ainda procura compreender o mundo, as suas esperanças e aspirações e
o seu carácter dramático; a evolução e o domínio da
técnica e da ciência trazem mudanças na ordem social: mudanças psicológicas,
morais e religiosas. E por conseguinte, esta evolução pode provocar
desequilíbrios pessoais, familiares e sociais, porque o saber teórico e prático
não traz satisfação ao homem. Tudo isso traz consequências negativas para o
homem que ao mesmo tempo se torna causa e vítima. Porém, o ser humano deve
dominar as coisas criadas e, é ele que pode estabelecer ordem política, social
e económica que devem servir para a dignidade humana. Portanto, Jesus Cristo
deve ser e é de facto a resposta e a solução da problemática humana (GS 4-10). Nesta
óptica, um padrinho não pode desperdiçar a oportunidade de ser um bom guia para
que o seu afilhado não se envolva em práticas anti-morais e contrárias ao dom
da vida (prostituição, homossexualismo, suicídio, aborto, etc.) e, fique longe
do uso de analgésicos e consumo de drogas (Álcool, Tabaco, Haxixe/Marijuana,
Cafeína, Mirá, Inaláveis, etc.) para construir uma vida digna.
É mesmo
no respeito pela vida e na dignidade da pessoa humana, onde o homem, como ser (não
só carnal, mas também) espiritual por natureza, tem a potencialidade para viver
numa relação com o Criador, uma vez que foi criado à sua imagem e semelhança
(Gn 1,27). Pelo dom do Espírito Santo, o homem chega a contemplar e a saborear
na fé o mistério do plano divino (GS 15) e na grandeza da liberdade, ele pode
se converter ao bem. O padrinho não pode e nem deve se cansar de insistir seu
afilhado, para que leve uma vida espiritualmente activa não deixando que esta
espiritualidade seja vivida num vácuo. Também ajude-o a fugir de toda
imoralidade.
SACRAMENTOS E VIDA CRISTÃ
Os
sacramentos da nova lei foram instituídos por Cristo e são sete, a saber: o
Baptismo, a confirmação, a Eucaristia, a Penitência, a Unção dos enfermos, a
Ordem e o Matrimónio. Os sete sacramentos tocam todas as etapas e momentos
importantes da vida do cristão: outorgam nascimento e crescimento, cura e
missão à vida de fé dos cristãos. Há aqui uma certa semelhança entre as etapas
da vida natural e da vida espiritual (CIC 1210).
Sendo
sinais visíveis de uma graça invisível, os sacramentos celebram o mistério da
Morte e Ressurreição do Senhor, unem o povo de Deus e exigem certas respostas
daqueles que celebram: a fé em Jesus Cristo, a conversão, o compromisso. Só
assim é que a graça de Deus pode ser eficaz. Não nos esqueçamos irmãos, de que
Cristo Jesus fez sempre aquilo que era do agrado do Pai. Viveu sempre em
perfeita comunhão com Ele. De igual modo, os seus discípulos são convidados a
viver sob o olhar do Pai, “que vê no segredo” (Mt 6, 6), para se tornarem
“perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 47). Reconhecendo pela fé a
sua nova dignidade, os cristãos são chamados a levar, doravante, uma vida digna
do Evangelho de Cristo (CIC 1692). E pelos sacramentos e pela oração, recebem a
graça de Cristo e os dons do seu Espírito, que dela os tornam capazes. Assim
diz S. Leão Magno, apelando todo cristão: “Reconhece, ó cristão, a tua
dignidade. Uma vez constituído participante da natureza divina, não penses em
voltar às antigas misérias da tua vida passada. Lembre-te de que cabeça e de
que corpo és membro. Não te esqueças de que foste libertado do poder das trevas
e transferido para a luz e para o Reino de Deus” (CIC 1691). De facto, Jesus
Cristo é o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por Ele (Jo
14, 6).
CONCLUSÃO
Os
padrinhos desempenham um papel importante na inserção dos seus afilhados na
comunidade cristã, na Palavra de Deus e na vida de oração. Que dentro da
comunidade eclesial, os afilhados saibam viver numa relação que os leve a uma
vida nova de maneira cristã, formando, assim, um só Corpo no qual Cristo é a
Cabeça. Importa referir que, para um bom desempenho deste serviço e o bom
acompanhamento dos afilhados, se tome em consideração um bom relacionamento,
amor, amizade e proximidade, estando assim distantes do exemplo de vida que
levam “gato e rato”. Dizia a
escritora Dirce Bastos Pereira da Silva: “ Se os jovens, em nossos dias, são
revoltados, é porque tiveram uma infância mal encaminhada – negligenciada ou
superprotegida. Se os líderes decepcionam e os representantes do povo
malbaratam os bens públicos, é porque, quando crianças, não aprenderam a
respeitar os companheiros das brincadeiras. Se os casamentos se desmancham ou
se arrastam em triste tolerância é porque os cônjuges, desde pequenos, não
confiavam em si mesmos, não sabiam rir nem repartir, e não adquiriram, em tempo
oportuno, conceitos correctos sobre o sexo. Se os homens se defrontam em
guerras infinitas e sem razão, é porque nos seus lares conheceram mais o ódio
que o AMOR. Se os pais e educadores abandonarem a repressão e educarem com
AMOR, salvarão não só a criança, mas também o ameaçado Planeta em que vivemos”[4].
Portanto padrinhos e madrinhas, saibam exercer as funções que vos foram
confiadas por Deus. Em Deus nada é impossível.
BIBLIOGRAFIA
SCHLESINGER, H. & PORTO, H., Dicionário Enciclopédico das Religiões,
K-Z, Vozes, Petrópoles, 1995.
AA.VV., Dicionário
de pastoral 4, Perpétuo Socorro, Porto, 1990.
CONCÍLIO ECUMÉNICO VATICANO II, Constituição pastoral, Gaudium et
Spes, Roma, 1965.
CÓDIGO DE DIREITO CANÓNICO anotado, Diário do Minho,
Braga, 1997.
PEREIRA, D. B. SILVA da, Pais e filhos: Educação Responsável,
Paulinas, S. Paulo, 1986.
GONÇÁLVES, L. T. &
GONÇÁLVES, L. E., Educação: a família
desafiada, Paulus, S. Paulo, 1994.
CATECISMO DA IGREJA
CATÓLICA, Gráfica de Coimbra, Lisboa, 1999.
[1] HUGO SCHLESINGER – HUMBERTO
PORTO, in Dicionário enciclopédico das
religiões, K-Z, (Sub art. Padrinhos),
Vozes, Petrópoles, 1995, pag. 1963.
[2] C. FLORISTÁN, in Dicionário de pastoral 4, (sub art. Padrinho), Perpétuo socorro, Porto,
1990, pag. 392.
[3] TIDA E ERNESTO LIMA GONÇÁLVES, Educação: a família desafiada, Paulinas,
S. Paulo, 1994, pag. 255
[4] Texto estampado no verso da capa
do livro com o seguinte título: Pais e filhos: Educação Responsável, Paulinas,
S. Paulo, 1986.
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