História de espiritualidade
A História de Espiritualidade, como matéria, vai querer demonstrar aos estudantes teólogos, em doutrinas e biografias, a vida espiritual nos seus vários aspectos ascendentes e descendente.
Plano de estudo
para o 1º Ano de Teologia
OBJECTIVO DO CURSO
Este curso quer dar a conhecer
aos candidatos ao sacerdócio, através da descrição, o caminho histórico, isto
é, a acumulação de experiências espirituais vividas pela Igreja através de
vinte séculos que nos separam, de Jesus de Nazaré até hoje.
A história em si faz referência
do passado do homem que deixa rastos do seu ser nas memórias escritas ou
cravadas nos documentos e monumentos que se convertem em fontes. A história
espiritual é a vida do homem, a ciência do real. A espiritualidade indica,
nesse sentido, “a vida segundo o Espirito”,
o processo gradual da assimilação do homem da graça divina.
CONTEÚDO
A história da Espiritualidade
abrange um campo muito vasto, por isso o seu conteúdo tem fundamento “na dimensão da interioridade de carácter
religioso do homem e desenvolve o estudo de pessoas (…), destituídos de
posteridade espiritual ou iniciadores de movimento…, superando-os porque inclui
também a experiência pessoal cristã narrada por ele mesmo ou relatado por
outros, a doutrina que ele pode ensinar ou a que outros extrairiam da sua vida.
Inclui também movimentos espirituais e as doutrinas que são fruto de
ensinamento directo ou reflexo na linha da experiência ascética e mística”
(S. De FIORES –
T. GOFFI, Dicionário
da Espiritualidade, p. 491).
METODOLOGIA
a) Todos deveriam ter um texto
de apoio, na impossibilidade, ao menos dois a dois.
b)
A exposição da matéria pelo professor, deixando depois
os alunos fazerem perguntas de esclarecimento.
c) Diálogo
(perguntas-respostas)
d)
Leitura de algumas obras de vida espiritual e
biografias de santos.
e)
Projecção de alguns filmes da vida dos santos e
comentário em turma.
AVALIAÇÕES
Haverá duas avaliações, como princípio, um trabalho e uma
prova escrita. Há também possibilidade de se fazer uma prova de recuperação. O
exame será escrito.
BIBLIOGRAFIA
* MAROTO, Daniel de Pablo, Historia de la
Espiritualidad Cristiana, Editorial de Espiritualidad, Madrid, 1990.
* LINGNEROLLES de
Philippe e MEYNARD Jean-Pierre, Storia della Spiritualità Cristiana, 700
autori spirituali, Gribaudi, Milano, 2005.
* DUNMEIGE G. e GUERRA A.,
História da Espiritualidade, in Dicionário de Espiritualidade,
dirigido por Stefano de Fiores e Tullo Goffi, S. Paulo: Paulus, 1993, pp.
490-510.
BOUYER Louis – DATTRINO Lorenzo, La Spiritualità dei Padri 3/A, Storia
della Spiritualità, Grfiche Dehoniane, Bologna, 1998.
BOUYER Louis, La Spiritualità dei Padri 3/B, Storia della Spiritualità,
Grfiche Dehoniane, Bologna, 1999.
ANCILLI Ermanno, Spiritualità Medioevale, Annotazioni storiche,
Teresianum, Roma, 1983.
PACHO Eulogio, Storia della Spiritualità Moderna I-II-III,
Teresianum, 1984.
CASTELLANO Cerevera Jesus, Storia della Spiritualità Contemporanea,
Teresianum, Roma, s.d.
PROGRAMA
INTRODUÇÃO GERAL
A ESPIRITUALIDADE COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA
1. Noção do termo espiritualidade
2. Explicação de alguns conceitos relacionados a
espiritualidade
3. Teologia Espiritual como disciplina científica
4. Teologia espiritual e outras teologias
5. Síntese histórica do surgimento da Teologia Espiritual
INTRODUÇÃO
I – A ESPIRITUALIDADE
NAS SUAS ORIGENS (SÉCULO I)
1.
Vida espiritual no Novo Testamento
1.1.A nossa herança (O povo Judeu)
1.2.As correntes espirituais do mundo
antigo
1.3.Jesus de Nazaré
1.4.A espiritualidade dos Evangelhos
a)
Sinópticos
b)
Evangelho de S. João
2.
Espiritualidade paulina
3.
Tradição Apostólica
II – IDADE
PÓS-APOSTÓLICA (SÉCULOS II-IV)
III – AS CORRENTES DA
VIDA ESPIRITUAL (SÉCULOS IV-VII)
1. As correntes heréticas e suas influências na
espiritualidade
1.1. A gnosis
1.2. Manequeísmo
1.3. Encratismo
1.4. Mesalianos
1.5. Montanismo
1.6. Consequências
destas manifestações
2.1. A espiritualidade do monacato
2.2. A espiritualidade do deserto
IV – A
ESPIRITUALIDADE DO TEMPO MEDIEVAL (SÉCULOS VIII-XIII)
A. SÉCULOS VIII-X
1. A espiritualidade popular
2. Movimentos laicais
B. SÉCULOS XI-XIII
1. O monacato renovado
2. A espiritualidade dos cónegos regulares e das ordens
mendicantes
V – IDADE MODERNA
(SÉCULOS XIV-XVIII)
1. A escola “Renano-Flamenga”, a “Devotio Moderna” e o
Renascimento
2. A escola Espanhola de Espiritualidade
3. As correntes espirituais na França
4. A espiritualidade do movimento jansenista e quietismo
5.1. A espiritualidade Popular do Barroco
5.2. Renascimento e Piedade Popular
VI – IDADE
CONTEMPORÂNEA (SÉCULO XIX EM DIANTE)
1. Raízes da espiritualidade contemporânea
1.2. A liberdade e os direitos humanos
1.3. Movimentos modernos e o seu influxo na espiritualidade
a) O
americanismo
b) O
modernismo
c) O
problema místico
2. A espiritualidade em torno do Concílio Vaticano II
3. O caminho espiritual pós-conciliar e algumas novas
tendências espirituais
INTRODUÇÃO
Tratar da História de Espiritualidade é algo complexo pois
engloba um conhecimento científico do passado e da evolução da humanidade desde
as suas origens até aos nossos dias, visto que o homem em si mesmo é religioso
desde da sua existência e formação das mãos de Deus.
Falar da História da
Espiritualidade é penetrar num complexo do esforço constante para a descrição e
análise da realização consciente do espírito limitado do homem que manteve no
decorrer dos séculos com o Transcendente.
Esta relação com o Transcendente se
manteve de cultura a cultura onde o homem desenvolveu a sua vida. Assim podemos
falar de formas diversas de espiritualidade, como por exemplo: espiritualidade
hindu, budista, muçulmana, judaica e cristã.
A História da Espiritualidade
Cristã que nós nos propomos estudar e pesquisar é uma explicação da relação
experimental do homem com o Deus, uno e trino, que se revelou por meio de Jesus
Cristo.
Na Bíblia, por exemplo, não
encontramos uma teoria a respeito da espiritualidade, mas a sua vivência. Encontramos
o convite a viver como homens espirituais (“pneumatikoi”: 1Cor 2,13; Gl
6,1; Rm 8,9), a viver na “santidade perfeita: o espírito, a alma e o corpo”
(1Ts 5,23). Isto diz respeito ao estilo de vida do cristão, esta que devia ser
como uma vida dominada pelo Espírito do Ressuscitado, como vida de membros da
Igreja.
A espiritualidade é assim um
conjunto das inspirações e convicções que animam interiormente os cristãos na
sua relação com Deus, assim como também conjunto das reacções e das expressões
pessoais ou colectivas, e das formas exteriores visíveis que concretizam tal
relação.
Originalmente e substancialmente,
não há mais que uma espiritualidade cristã, mas a mesma espiritualidade vivida
de maneiras diferentes no tempo e no espaço determinado.
Antes de falarmos da História de
Espiritualidade há necessidade de termos uma pequena noção de Teologia
Espiritual, visto que o programa académico deste Seminário não contempla o
estudo introdutório da Teologia Espiritual.
A ESPIRITUALIDADE COMO DISCIPLINA CIENTÍFICA
1. Noção do termo espiritualidade
Antes de explicarmos o termo é
necessário saber que a ciência da perfeição cristã ou, simplesmente espiritualidade,
teve sua evolução, por exemplo, ao longo da história se encontramos termos como:
vida interior, vida espiritual, Ascética e Mística.
Todos estes termos têm a sua
razão de ser, porém devem ser entendidas no seu próprio contexto e lugar,
embora no fundo possam significar a mesma coisa.
O adjectivo
spiritalis (ou
spiritualis) provém da tradução grega
pneumatikós; o substantivo
spiritualitas
apareceu mais tarde no contexto diverso, como por exemplo no contexto canónico
em que
spiritualitas se opunha a
temporalitas, os bens eclesiais
aos bens civis, como também no contexto filosófico que contrapõe o ser, ou
então a consciência espiritual ao
corporalitas. Em todos esses contextos
permanece o contexto religioso no qual o termo
spiritalis indica a vida
espiritual
.
Se passamos a concepção moderna da “espiritualidade” vemos que nos documentos eclesiásticos, a
terminologia não é constante.
No nosso estudo de teologia
espiritual ou simplesmente espiritualidade para chegarmos a uma exacta
definição temos que olhar para o desenvolvimento histórico da vida cristã. Por
exemplo, era comum na França, nos anos Seiscentos, o termo “espiritualidade”
indicar tudo aquilo que estava em relação aos exercícios de vida interior, em
que se procurava a perfeição aos olhos de Deus.
Aos nossos dias “espiritualidade” significa também um
certo estilo de vida cristã que está em relação aos correntes espirituais
históricas (franciscana, inaciana, beneditina, …), ou um estilo específico de
vida (espiritualidade sacerdotal, laical, religiosa, etc.).
2. Explicação de alguns
conceitos relacionados a espiritualidade
A espiritualidade abarca não só a definição
acima, mas também outros conceitos, tais como: vida espiritual, vida
interior, vida cristã, vida sobrenatural, perfeição, ascética e mística.
a)
Vida Espiritual
A expressão
vida espiritual pode ser tomada em duplo sentido:
i.
Sentido amplo: - Como oposta a vida material,
assim falamos da actividade espiritual do homem que pensa, raciocina e ama na
ordem puramente natural (ateísmo).
ii.
Sentido restrito: - Como distinta da vida
puramente natural. Neste sentido cada alma, em estado de graça santificante,
possui vida sobrenatural.
b)
Vida sobrenatural
O dicionário
diz: sobrenatural é que transcende a natureza física do homem; que concerne a
Deus ou pertence ao mundo divino. Vida baseada nas virtudes teologais (fé,
esperança e caridade) e nos conselhos evangélicos (pobreza, castidade e
obediência).
Mas quando se
fala de vida sobrenatural o autor
António
Royo Marin diz que a expressão vida sobrenatural serve para indicar a vida
vivida em uma forma muito plena e intensa. Assim, fala-se de espiritualidade do
homem espiritual.
O sobrenatural
pode ser de duas espécies:
i.
Aquele que é intrinsecamente sobrenatural, de modo que
se excede não só a causalidade de todas as forças eficientes criadas, mas a
mesma essência e as exigências naturais de cada ser criado (a graça, as virtudes infusas, os dons do Espírito
Santo).
ii.
Aquele que mesmo sendo intrinsecamente natural é
produzido de modo sobrenatural (os fenómenos da natureza: água do baptismo,
óleo do crisma, pão da Eucaristia, vinho da Missa, etc).
c)
Vida Interior – O termo em si mesmo dá o seu
significado. É a vida que parte do princípio da vivência do que é meditado à
luz da Palavra de Deus.
d)
Vida Cristã – Participação na graça de
Cristo-Cabeça, revestir-se de Cristo, agir em nome de Cristo, ter o senso de
Cristo, até alcançar o estado de homem perfeito, a plena maturidade em Cristo.
e)
Perfeição Cristã – A vida sobrenatural de
graça
quando alcançou um desenvolvimento excelente em relação ao grau inicial
recebido no baptismo, mediante os seus princípios operativos.
f)
Ascese – Etimologicamente o termo ascesi
significa exercício, treino, e se aplica seja ao exercício físico seja a uma
reflexão filosófica. Mais tarde veio a significar também esforço mediante o
qual se desejava a progressão na vida moral e religiosa. Este esforço,
normalmente, requeria um método. Era normal que numa ascese espiritual impunha
também uma disciplina corporal e exercícios de oração mental.
Partindo da
necessidade do homem de um esforço para conseguir a perfeição, toda a
espiritualidade fala de ascese e da vida ascética: cada pessoa espiritual deve
praticar “exercícios espirituais”.
Toda vida
cristã é necessário esforço humano para cooperar com a graça divida e dispor-se
a receber um acréscimo na vida espiritual. Este esforço de purificação e de
cooperação nunca é completo e portanto é necessariamente permanente.
Por outro
lado, a ascese é a pratica da vida que tende a elevação espiritual
através do domínio dos instintos, da abstenção dos prazeres, da meditação e do
destaque do mundo.
Por ascética
entende-se o esforço que a pessoa faz para dominar as próprias paixões, para
adquirir a virtude. Esta actividade representa a 1ª fase da vida cristã que se
chama via purgativa ou dos principiantes, porque estes se exercitam na
prática das virtudes mais ainda humanamente, isto é, preponderância da
actividade pessoal. O influxo do Espírito Santo é ainda pouco sentido. Em
conclusão, a característica do período ascético é a actividade e o esforço.
A teologia
ascética seria, neste caso, o estudo dos motivos e meios de purificação da
alma que se liberta do pecado e se empenha na prática das virtudes.
g)
Mística
Do ponto de
vista filosófico a palavra mystikós deriva da mystés: àquele que
foi iniciado aos mistérios. Um significado comum da palavra mysterion seria
a existência de uma realidade secreta, escondida ao conhecimento ordinário e
que se revela através de uma iniciação quase sempre de tipo religioso. É este o
sentido do mysterion também no N. T.
(Mt 13,11; Col 1,26-27; Ef 3,3-21;
etc).
É necessário
porém distinguir a palavra
mistério que se refere aos complexos mitos e
ritos que implicam uma iniciação e
esoterismo,
do
místico que compreende várias formas de experiências
espirituais (cfr. Gl 1,15-16)
.
Portanto, a palavra
mística indica algo escondido, secreto, misterioso.
É usado, no sentido religioso, para falar dos contactos mais íntimos da alma
com Deus.
Com mística
estamos na via iluminativa ou dos proficientes, que depois, torna-se via
unitiva ou dos perfeitos. A acção do Espírito Santo é mais frequente e
manifesta. A pessoa age divinamente e sempre menos por esforço próprio.
Característica específica deste estado é a passividade.
A teologia mística é aquela que
ensina as vias de união a Deus (pelas purificações e) pela acção dos dons do
Espírito Santo.
Perante todos estes conceitos, a espiritualidade seria a “vida segundo o espírito,
cujo fruto é a santificação” (cf. Rm 6,22; Gl 5,22).
3. Teologia Espiritual como disciplina científica
Antes de
tratarmos da teologia espiritual como uma disciplina científica temos que
entender primeiro a noção de ciência. O termo ciência aplicado a
teologia parece ser inconcebível, dado que a ciência deve ter o seu objecto
e método próprios. Porém temos que entender que entre ciências
existem ciências exactas, ciências humanas e ciências teológicas, todos
esses têm o seu objecto e o seu próprio campo de acção.
3.1. Noção de ciência
i.
As ciências exactas tem o objecto próprio, uma
certeza comunicável e universal como por exemplo a matemática, a física, a
química, etc. Estes partem de um método próprio dedutivo ou experimental.
ii. As
ciências humanas tem o objecto próprio o homem nas suas várias condições
de vida como por exemplo a psicologia, a sociologia, a história, etc. Se servem
de métodos próprios seja experimentais ou racionais.
iii. As
ciências teológicas esses consideram tudo em relação a Deus, princípio e
fim. Esses se servem da Sagrada Escritura e da Tradição, onde tomam os seus
princípios de estudo.
3.2. Descrição da Teologia Espiritual
É teologia espiritual
porque insere também a ascética e a mística como parte de um todo, sugerindo
assim a ideia da unidade da vida cristã e excluindo a sua divisão, mas unindo e
ordenando uma à outra no único fim comum, a santificação do homem, isto é, a
progressiva união com Deus no aumento contínuo da graça (aspecto positivo), e a
progressiva eliminação dos obstáculos que impedem o crescimento (aspecto
negativo).
A Teologia Espiritual é a ciência
que ensina ao homem a destacar-se das coisas terrenas em vista a união com
Deus.
A Teologia Espiritual “
é uma disciplina teológica que,
fundada sob os princípios da Revelação, estuda a experiência espiritual cristã,
descreve o seu desenvolvimento progressivo e faz conhecer a sua estrutura e
suas leis”.
A Teol. Espiritual “
é a disciplina teológica que estuda
sistematicamente, a partir da Revelação e da experiência qualificada a
assimilação crescente do mistério de Cristo na vida do cristão e da Igreja, no
processo constante e gradual até a perfeição”
.
A
Teologia espiritual “é disciplina teológica fundada nos princípios da
revelação e na experiência dos santos, que estuda o organismo da vida
espiritual e a consciência que dela temos, explica as leis do seu progresso e
desenvolvimento, descreve, em fim, o progresso do desenvolvimento que encaminha
a alma dos começos da vida cristã até a perfeição”.
Explicação da última Noção
a)
A T. E. é disciplina teológica porque
trata do Deus vivo, enquanto fonte, modelo e termo da vida espiritual, e trata
do homem que participa dessa vida divina.
Sendo o homem o objecto
material principal dessa disciplina, toda a contribuição das ciências humanas
para um conhecimento melhor do homem pode servir a teologia espiritual em seu
desígnio de fidelidade à realidade do homem.
A T. E. encara o homem em sua
condição a um destino sobrenatural, com sua história pessoal e todavia
incorporada na comunidade humana e eclesial.
b) A
T. E. é uma ciência fundada nos princípios da revelação e na experiência dos
santos. Tais são as duas normas da T. E. Pela revelação, a T.
E. sabe que Deus é Pai, que nos criou e nos ama como filhos seus, e que nos chama
e convida a uma comunhão de vida com a Trindade. De outra parte, a experiência
dos santos ilustra esta vida filial na multiplicidade e riqueza de suas
actuações, como também em seu progresso e sua perfeição.
c) A
Teologia Espiritual
estuda o organismo da vida espiritual. Faz parte da
antropologia sobrenatural (antropologia teológica), cujo os elementos são a graça,
as virtudes teologais e os dons do Espírito Santo.
A Teologia Espiritual estuda
também a consciência que temos da vida espiritual, a vida de graça, é o
fundamento ontológico da vida espiritual. A evolução da vida espiritual e o seu
progresso dependem da livre colaboração do homem.
A Teologia Espiritual pode,
portanto, descrever a actividade consciente do homem espiritual. A actividade
espiritual se acompanha de um sentido da realidade e da consciência do mistério
de Deus, da densidade dos bens da fé. Essa consciência é análoga, na vida
espiritual, a que nós temos da presença do mundo sensível.
d) A
T. E. explica as leis do progresso e da evolução da vida espiritual. Com
efeito, sendo a vida espiritual a de um ser em marcha, imerso na temporalidade,
está sujeita ao crescimento e ao progresso até a plenitude do Corpo de Cristo.
A T. E. esforça-se por
descobrir as leis desse progresso e dessa maturação espiritual do homem no
caminho de sua união cada vez mais íntima com Deus.
e) A
Teologia Espiritual descreve a totalidade do processo que conduz a alma,
desde dos começos da vida cristã até ao cume da perfeição.
A vida espiritual, com efeito,
não é simples sucessão de experiências
, e
sim aprofundamento contínuo, consciência cada vez mais viva da presença da
Santíssima Trindade. Esse progresso contínuo é a própria nota característica de
uma autêntica vida espiritual.
3.3. O método da Teologia Espiritual
Sobre a questão do método é
variado segundo as várias tendências das várias espiritualidades (beneditina,
carmelitana, dominicana, franciscana, inaciana), porém podemos salientar o
método indutivo e dedutivo.
a) M. Indutivo (da experiência à
interiorização): se caracteriza como experimental ou fenomenológico-descritivo.
Na impostação dedutiva se dá muita importância também a experiência das
testemunhas de santidade e a observação, da confrontar com os princípios
bíblicos-teológicos (inaciana e carmelitana).
b) M. Dedutivo: é mais especulativo
ou teológico-racional. Nega o vivido como fonte de princípios, defende que os constantes e as
estruturas da vida espiritual devem ser tratados unicamente a partir dos
princípios bíblicos-teológicos (dominicanos).
Na realidade, hoje em dia,
não
existe um método puro indutivo ou dedutivo, mas todos os dois métodos devem
ser aplicados de maneira convergente. Assim escreve Otger Steggink: “
não se
pode falar mais de método dedutivo e indutivo, mas sim deve-se falar de
interdisciplinaridade, isto é, um método interdisciplinar ou integral, que
integra os diversos métodos (histórico, psicológico, linguístico, literário e
cultural religioso) na reflexão teológica”
.
3.4. As fontes da Teologia Espiritual
3.5. O objecto específico da Teologia Espiritual
4. Teologia Espiritual e outras teologias
5.
Síntese
histórica do surgimento da Teologia Espiritual como disciplina Teológica
A Teologia Espiritual é uma
especialização nova, nascida recentemente no seio da teologia e o seu itinerário
pode ser resumida em três etapas: a exigência remota por teologia
espiritual; o nascimento da cátedra e o seu ensino e a espiritualidade depois
do Concílio Vaticano II.
Já no séc. V encontramos a
expressão: ““Age, ut in spirituatate profecias” (esforça-te de progredir
na espiritualidade ou seja na vida espiritual). Cfr. BERNARD Charles
André, Teologia spirituale, edizioni San Paolo s.r.l., Cinisello Balsamo
(Milano), 2002³, p. 27